Com o novo coronavírus (SARS-Cov-2), as máscaras se tornaram "populares" (obrigatórias), sendo uma das tentativas de reduzir o número de infecções. A meta-análise de Chu et al. (2020) fornece dados para crer que medidas como uso da máscara, distanciamento (ao menos 1m, sendo 2m mais seguro) e proteção ocular são eficazes ao reduzir o número de contágio.
Porém o estudo sobre o uso da máscara ao realizar exercícios físicos precede essa triste realidade, ainda que antes, o principal objetivo fosse a melhora de desempenho, utilizando outro tipo de máscara facial, as quais simulam elevadas altitudes. Embora diferenças importantes ocorram entre esses tipos de estudos, alguns pontos em comum existem e merecem destaque.
Fikenzer et al. (2020) evidenciaram que dois tipos de máscaras (cirúrgica e FFP/N95) reduziram significativamente o desempenho cardiorrespiratório (potência máxima, VO2máx, ventilação e desconforto geral) em teste incremental em uma bicicleta ergométrica, sendo os piores resultados apresentados na máscara FFP2/N95.
Por outro lado, Epstein et al. (2020) não encontraram diferenças significativas no tempo até exaustão, pressão sanguínea sistólica, frequências cardíaca e respiratória, saturação de oxigênio e percepção de esforço nos 3 protocolos (sem máscara, com máscara cirúrgica e com máscara N95) realizados em bicicleta ergométrica. Embora ambos os estudos tenham sido aplicados em sujeitos saudáveis e ativos, a divergência nos resultados sugere que algumas pessoas podem se adaptar mais rápido ao uso da máscara em exercícios físicos.
Embora os resultados de Fikenzer et al. (2020) possam parecer bastante prejudiciais ao desempenho físico, é importante lembrar que o uso da máscara pode ocasionar maior estresse metabólico, o que é interessante quando o objetivo é a hipertrofia muscular.
Conclusões
Apesar do desconforto e possível redução do desempenho físico ao se exercitar com máscara, uma maior segurança e menor risco de contágio de infecções parece ser um pequeno preço a se pagar. Além disso, manter uma rotina de exercícios físicos é fundamental para obter os diversos benefícios do exercício físico, dentre eles o fortalecimento do sistema imunológico e melhora em variáveis psicológicas (ex.: diminuição de sintomas depressivos e ansiedade).
Dessa forma, o gerenciamento das variáveis agudas do treinamento devem ocorrer afim de tornar o treino efetivo, porém um pouco mais confortável ao praticante. Dentre as possíveis formas para isso, posso citar uma pequena diminuição na intensidade do exercício, ou um aumento no tempo de descanso. Além disso, se possível, é interessante levar mais que uma máscara e realizar a troca após grande quantidade de suor.
Referências
Teodoro, C. L. (2017). Efeito agudo do uso da máscara de restrição de fluxo de ar durante a realização de exercício resistido.
Fikenzer, S., Uhe, T., Lavall, D., Rudolph, U., Falz, R., Busse, M., ... & Laufs, U. (2020). Effects of surgical and FFP2/N95 face masks on cardiopulmonary exercise capacity. Clinical Research in Cardiology, 109(12), 1522-1530.
Epstein, D., Korytny, A., Isenberg, Y., Marcusohn, E., Zukermann, R., Bishop, B., ... & Miller, A. (2021). Return to training in the COVID‐19 era: The physiological effects of face masks during exercise. Scandinavian journal of medicine & science in sports, 31(1), 70-75.