terça-feira, 10 de novembro de 2020

Mitos da Educação Física #3 - Treinamento de Força faz mal para crianças e adolescentes?


 

    Nas últimas décadas, a obesidade tornou-se um dos grandes males a serem combatidos, estando relacionada à diversos problemas de saúde. De acordo com o Vigitel (2018), houve um aumento de 67,8% nos índices de obesidade no Brasil entre os anos de 2006 e 2018. Em crianças (5 - 9 anos), estima-se que a obesidade atinja 12,9% dessa população, enquanto em adolescentes (12 - 17 anos), 7%.

    A fim de combater a obesidade e o sobrepeso, o exercício físico é uma das opções mais eficazes, além de trazer benefícios adicionais, como melhora cardiovascular e respiratória, força, potência e em aspectos psicológicos. Em especial, o treinamento de força é uma prática bastante popular no Brasil, em muitos casos sendo a 1ª escolha ao iniciar um programa de treinamento físico.

    Por outro lado, o treinamento de força em crianças e adolescentes ainda é visto como um tabu. Acredita-se que tal treinamento seja contraindicado nesse público, podendo prejudicar o crescimento e desenvolvimento ósseo, além de provocar inúmeras lesões.

    Neste post, veremos algumas das características do treinamento de força para crianças e adolescentes, bem como debater sua eficácia e segurança.

   

Infância e Adolescência

    Em termos cronológicos, a infância é um período que vai desde o nascimento até os 11 anos (meninas) ou 13 anos (meninos), enquanto a adolescência varia dos 12 - 18 anos em meninas e dos 14 - 18 anos em meninos. Vale lembrar que essa divisão é baseada apenas na idade cronológica (em anos), podendo ter diferença em termos maturacionais de indivíduo para indivíduo.


Maturação Biológica

    A maturação diz respeito à processos físicos (biológicos) que levam uma criança a atingir uma estado biologicamente maduro, abrangendo diferentes sistemas (como a maturação sexual, muscular e óssea). 

    Embora a maturação ocorra em momentos diferentes de indivíduo para indivíduo, ela se inicia por volta dos 11 anos, em meninas, e 13 anos, em meninos, marcando o fim da infância e início da adolescência.

 

Evidências científicas

    De acordo com a Associação Nacional de Força e Condicionamento (2009), a chance de uma criança lesionar-se ao realizar o treinamento de força é menor que 1%, sendo menor do que em esportes, tais como basquete e futebol. Ainda, de acordo com Meyer et al. (2009), a maioria das lesões (77%) em crianças de 8 - 13 anos ocorrem nos pés ou mãos, ao "largar" ou derrubar o peso no chão.

    Em uma revisão sistemática, Lesinski, Prieske & Granacher (2016) evidenciaram que o treinamento de força foi efetivo para aumentar a força, potência anaeróbia, velocidade e desempenho em tarefas específicas de esportes, em jovens de 6 - 18 anos. Tais achados reforçam as orientações de Lloyd et al. (2014) que propuseram consenso internacional sobre o treinamento de força em crianças e adolescentes, indicando seus benefícios em variáveis relacionadas à saúde, prevenção de lesões, psicológicas e desempenho físico.


Resumindo...

    Dessa forma, abaixo está uma pequena lista sobre alguns dos benefícios e cuidados ao realizar o treinamento de força em crianças e adolescentes:


Benefícios

- Aumento da força, potência e resistência musculares;

- Diminuição do risco cardiovascular;

- Aumento do desempenho esportivo e recreacional;

- Aumenta densidade mineral óssea;

- Aumento da resistência contra lesões;

- Melhoras psicológicas (como sensação de bem-estar, humor e diminuição da ansiedade);

- Aumenta probabilidade de estilo de vida saudável ao longo da vida


Cuidados

- Respeitar os princípios do treinamento físico;

- Progressão de cargas (volume e quilagem) mais lenta que em adultos;

- Evitar cargas máximas;

- Atentar sobre altura dos equipamentos;

- Acompanhamento regular da maturação biológica (especialmente óssea);

- Supervisão de profissionais qualificados.


Referências

Fleck, S. J., & Kraemer, W. J. (2017). Fundamentos do treinamento de força muscular. 4th edição, Artmed Editora.

Faigenbaum, A. D., Kraemer, W. J., Blimkie, C. J., Jeffreys, I., Micheli, L. J., Nitka, M., & Rowland, T. W. (2009). Youth resistance training: updated position statement paper from the national strength and conditioning association. The Journal of Strength & Conditioning Research, 23, S60-S79.

Myer, G. D., Quatman, C. E., Khoury, J., Wall, E. J., & Hewett, T. E. (2009). Youth versus adult “weightlifting” injuries presenting to United States emergency rooms: accidental versus nonaccidental injury mechanisms. Journal of strength and conditioning research/National Strength & Conditioning Association, 23(7), 2054.

Lesinski, M., Prieske, O., & Granacher, U. (2016). Effects and dose–response relationships of resistance training on physical performance in youth athletes: a systematic review and meta-analysis. British journal of sports medicine, 50(13), 781-795.

Lloyd, R. S., Faigenbaum, A. D., Stone, M. H., Oliver, J. L., Jeffreys, I., Moody, J. A., ... & Herrington, L. (2014). Position statement on youth resistance training: the 2014 International Consensus. British journal of sports medicine, 48(7), 498-505.





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